O meu avô António
O meu avô António, que faz hoje anos que morreu, também lutou, como agora se diria, pela liberdade ou pelo direito de escolher. Melhor, por Portugal. Ele, que também o tinha no nome, foi um dos muitos monárquicos que na segunda década do século XX entrou em quase tudo o que era revolta para defender o que acreditava. Os tais presos políticos que o regime fez por esquecer. Foi preso umas quantas vezes e, da sua história toda, é a maneira como passou por isso e que se pode ver nas dezenas de fotografias, cartas, quadras dessa época da prisão, que mais gosto dá. Em vez de desânimo, fica a camaradagem, a lealdade, a alegria, o não deixar ninguém de fora, o dever cumprido. As histórias do rato de estimação ou de um pássaro que entretanto aparece, do sotaque de cada um, dos "trabalhos" porque iam passando e que ficaram registadas nas memórias que nos deixou. E amizades para a vida.
Acho que é esta a sua grande lição. Não conseguiu, mas tentou e pagou bem caro por isso. E sempre, ao que parece com uma grande serenidade. Que ele lá em cima fique a saber que é também a esse tempo que esta sua neta mais nova, que ele nunca chegou a conhecer e que não tem os olhos azuis lindos que ele tinha, volta uma e outra vez em tempos menos fáceis. É que mais de cem anos depois continua a ser tudo, e como sempre, uma questão de consciência.
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