Da terra e do Mar
Se se limitar a querer ser apenas “terra”, Portugal
não só contraria uma das razões da sua existência mas ficará a médio prazo
“arrumado” num patamar de países cujas escolhas são determinadas por entidades
externas que não têm em conta os nossos interesses estratégicos e para o qual
apenas alguns irão olhar com simpatia ou alguma curiosidade. O tal “milagre
português” que de vez em quando acontece. Mas nada mais. É preciso assim construir
e propor aos portugueses o desafio de um Portugal para o século XXI que só terá de facto sentido
se as pessoas o sentirem como seu, livre de fantasmas do passado que alguns
insistem em criar, numa óptica atlântica da qual somos o porto natural de
ligação com a Europa. Dir-me-ão que para que tal aconteça precisamos das tais elites
que não temos e que são essenciais para que essa mudança de paradigma aconteça.
Talvez tenham razão. Mas também é verdade que em 877 anos de existência
enquanto país foi tantas e tantas vezes a necessidade comum de mudança que nos
levou a ser “litoral” enquanto os Velhos do Restelo diziam só ser possível ser
“terra”.
Como tão
bem escreveu aos jovens nesta Páscoa o cardeal Tolentino, “este não é o momento para desistir de sonhar, mas
é sim uma estação para os grandes sonhos. Este não é o tempo para deixar mirrar
as nossas visões". Eu
acrescentaria que essas novas visões e esta vontade comum que liberta e quebra
dependências só serão conseguidas com uma aposta séria na construção do
pensamento crítico e na revisão urgente do papel que se quer estruturante da
Escola em Portugal. Porque, como disse José Gil, só suscitando interrogações,
se ultrapassa uma existência vivida apenas ao nível de superfície. No Presente
e no Futuro que aí vem.
E para que, sabendo ser “terra” consigamos
outra vez ser “mar”.
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