O livro de visitas
Hoje o dia está, como quase todos os das últimas semanas, triste. Fui buscar álbuns antigos, de tempos que não vivi e com pessoas que já nunca conheci. Avôs, tios, amigos, gente que foi passando. Aqui na Quinta, na Ortiga, em Santiago, passeios aqui e ali. Algumas idas a Sines, a excitação do ano em que nevou nestas bandas, as "austríacas", os piqueniques e os casamentos. Muito bem colados e com legendas os de um lado, fotografias soltas em cima de cada página do outro. Quase todas a preto e branco.
E o livro de visitas. Pessoas que entraram e nunca saíram, outros que estiveram e foram embora, muitos que já não sei quem são (mas quem seriam, já agora?), algum que voltou sem nunca ter deixado de lá estar. Nós também nos fazemos assim. Quem é que aqui esteve, o que escreveu, por que é que ali foi. O ambiente onde, mesmo sem ter estado eu também estive, porque se ele tivesse sido de outra maneira eu também o seria, quer queira quer não. As "Baladas astrais" do Miguel Araújo. Como as dezenas de livros da minha avó em alemão. "Porque é que não os deita fora se já ninguém percebe e deixam espaço para outros, novos?" Porque não. Porque se não tivessem existido as "mestras" alemãs, muito provavelmente a minha avó teria sido diferente e eu, mesmo sem a ter conhecido, também. Estão ali, em três prateleiras dentro de um armario inglês com portas de vidro que rangem sempre que se abrem. Com as Pearl Buck da minha mãe, os n Napoleão do meu pai e outros que lá vou pondo, meus. Será que foram elas que lhe passaram o gosto de escrever? Talvez. Tudo isto também para lembrar que nós somos o resultado disto tudo, que se uma daquelas coisas não tivesse acontecido, se um daqueles livros não tivesse sido lido (ou se a casa não tivesse livros, alguns deles escritos por alguém "da casa" ), se quem ia chegando não fosse assim ou não tivesse estado ali eu não era eu. E nestes dias assim, isso dá um estranho amparo e uma talvez explicável confiança (ou teimosia) em continuar. Até porque a seguir grande parte das fotografias são a cores e o livro de visitas, que agora é meu, já continuou com nomes que mesmo sem estarem já lá estão. É de todas estas peças que são como pequenos/grandes átomos que se faz a história (e por isso a vida) de cada um.
Maravilha!!!!
ResponderEliminarObrigado Sofia!
EliminarAs "austríacas"? Refugiadas acolhidas pela família?
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