A Missão




Não sei o que terá passado pela cabeça de D. António Paes Godinho quando se viu a entrar no cortejo para a consagração da Basílica de Mafra. Talvez se tenha lembrado do dia em que saíu da casa dos seus pais no Alentejo a caminho do seminário de Évora ou de quando tinha conhecido pela primeira vez o Rei D. João V que agora ali estava na sua frente, cumprindo o voto que tinha feito. 

Entretanto tinha sido feito Bispo de Nankim. Era a época do Padroado Português do Oriente e de tempos difíceis tanto dentro da Igreja como nas relações entre Portugal e a China. Ele bem que tinha tentado tomar conta do seu Padroado. Cinco tentativas fez ele de se fazer ao mar e nada. Ares do Oriente apenas teria na Quinta que tinha acabado de comprar nesse mesmo ano de 1730: Olhos Bolidos.

Se não o deixavam entrar num pagode chinês, construiria ele a sua Chineza, uma casa de fresco com telhado a quatro águas com vista para um jardim onde as espécies exóticas se misturariam com as locais e onde se ouviria o som da água a escorrer pela cascata da gruta decorada com seixos, conchas das praias lá ao lado e bocadinhos de porcelana da China onde não o tinham deixado entrar. Já tinha visto muita coisa ele desde que tinha chegado a Lisboa. Mas agora era tempo de voltar. Uma vez terminada esta tarefa (e era sua a consagração da sétima capela da Basílica e das relíquias dos Mártires Franciscanos) trataria de ir para lá. 

As primeiras a chegar seriam as Magnólias, que o Imperador chinês tinha declarado símbolo de dignidade e lealdade. Cá não seria diferente. Seriam elas a ajudar a desenhar o perímetro do jardim. Pouco acima, numa pequena elevação, mandaria ele construir um oratório iluminado com uma luz que enche a alma e que só pode vir do mar. 

Vendo bem, pensou ele, Deus Nosso Senhor, sabe sempre o que faz. E avançou, no meio de todo aquele espalhafato, tranquilo e sereno, sabendo que a sua verdadeira missão era a de criar um sitio de Paz. 

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